Mariana Pita
5 a 24 de Novembro de 2011





























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                                Cenário Laranja Portátil
                               
                             

                                
                             

                                
                           


                                Raft
                                

                                Com um intervalo de 5 minutos
                                
                             

                                


Textos:


Editorial:


     O meu pai nunca percebeu muito bem o que é a arte, nem para o que
realmente ela serve, se é que tem de servir para alguma coisa. Sempre a
viu como uma coisa com utilidade muito reduzida, se não mesmo nula.
Quando me perguntava, o que iria fazer depois de acabar a licenciatura
em Belas Artes, eu dizia-lhe que não sabia, pois não tinha e ainda não
tenho grandes capacidades para prever o futuro. No entanto ele acabava
sempre por dizer: “...mas vais arranjar um trabalho depois disso, e continuas
a fazer as tuas coisas nos tempos livres?” (como se de um hobby
se tratasse). Como, nem nesses momentos uma nesga do futuro se me
mostrava, a única coisa que poderia dizer era que não sabia, mas que a
arte também não seria um hobby.
     A única maneira que encontrei para lhe explicar que isto poderia
ser mais do que um passatempo e que requer que seja mais do que um
passatempo, foi fazendo-o ver que aquilo que ele fazia, o seu trabalho, era
tão inútil, como para ele era a arte, que na sua essência era algo supérfl
uo, desnecessário para a existência do ser humano. Algo que acontece
com quase tudo aquilo que fazemos e denominamos por trabalho. Se
deixássemos de trabalhar continuaríamos a comer, a construir habitações
e por aí em diante, só não o chamaríamos de trabalho.
     A Razão, que impera no mundo laboral, já nos mostrou tantas
vezes que nem sempre de razão se trata e que a obsessão da humanidade
com a mesma não passa, disso mesmo, de uma obsessão. A busca, pela
verdade das coisas, ensinou-nos que nem a descoberta mais racional em
relação à natureza, à verdade de algo, é o sufi ciente para compreender
a sua existência, a sua utilidade, ou por outro lado a sua inutilidade.
     Se por vezes, na organização da presente exposição, tentámos
perceber mais alguma razão escondida nos trabalhos, que se nos apresentavam,
rapidamente fomos chamados à atenção – se é que de uma
chamada de atenção se tratou – de que as coisas podem ser bem aquilo
que são; que não tem de existir um especial motivo para a realização
de um objecto, de uma acção, de uma imagem, para além da própria
vontade de o fazer, para além da vontade pessoal, mesmo que por vezes
para o outro, para o espectador, possa parecer tão estranhamente pessoal,
assustadoramente pessoal.
PAINEL 2011


Mariana Pita:
                                                                                                                                      

    É o monstro do pântano, mas desta vez o monstro está limpinho. É o
monstro fora do pântano, mas com o mesmo nome porque todas as
pessoas sabem donde veio. O esquilo fofo, que é aquele que sabe apenas
o mesmo que todos sabem, perguntou:














— O que faz aqui o monstro do pântano?
— Qual é o sentido da sua chegada? — Perguntou o senhora dos óculos
de sol.
Ele, o monstro, respondeu que ainda não sabia sobre o sentido porque
ainda não tinha seguido os passos todos. “Antes de chegar ao sentido é
preciso saber se fi ca bem.”, continuou o monstro, “E depois pensar na
razão de fi car bem ou mal, esta é a parte mais difícil que poucos conseguem.
Só quando souberem a razão é que podem dizer se faz sentido.”
O monstro sintiu-se muito inteligente, não por ter chegado á resposta
fi nal mas por ter conseguido lembrar-se dos passos todos.




   O monstro do pântano é verde e um bocado viscoso mas não suja e não
tem cheiro. É um bocado bonito e um bocado feio, mais bonito que uma
sereia e um cavalo alado e tão feio quanto o rapaz mais feio da escola. E
é o mesmo em todo o lado, na escola, no campo de jogos, na praia, no
jardim do palácio de cristal. Quando vai ao ZOO leva uma roupa diferente
porque é dia de festa, mas de resto continua o mesmo.


                          










    Quando estávamos a escolher os trabalhos para a exposição perguntaram-
-me o que tinham em comum, não soube respoder mas também não
fi quei preocupada porque sabia que fi cavam bem.
Voltei a pensar no assunto quando comecei a escrever este texto, porque
sei que estas coisas em comum dão jeito nestas situações, e por isso chamamos
o monstro do pântano. Quero dizer que o monstro do pântano
fi ca bem, e fi car bem com ele é o que têm em comum. — Fiz o primeiro
passo, os que seguem, a razão e o sentido fi cam para vocês, se acharem
necessário — Eu não acho.